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Entendendo percursos

Falar do movimento de produção da Zózima Trupe é falar de dificuldades, insistência e resistência de um grupo que surgiu apenas com a vontade de fazer teatro com amor, respeito ao público e respeito às suas origens. A maioria dos integrantes da Trupe é de alguma periferia do cafundó de São Paulo. Pessoas que sabem exatamente o que é a falta de acesso à educação de qualidade, a falta de acesso ao lazer, à saúde, às artes e tudo aquilo que deveria ser direito de todos. 

Os integrantes da Trupe possuem uma característica comum: uma inquietude que leva ao inconformismo e um inconformismo que leva a uma ação. Porque quem nasce pobre sabe desde cedo que não temos tempo para reclamar; sabe desde cedo que nasceu para trabalhar; trabalhar honestamente com qualquer coisa que garanta o sustento da família. A partir dessa ânsia de fazer algo, de um agir no mundo, a Zózima decidiu fazer teatro no ônibus.

Desde seu brotar no mundo, a Trupe se deparou com muitos impasses para sua existência. Daquelas situações que abalam o grupo e o fazem pensar que dali não há mais para onde correr e é chegado o fim. O ônibus já ficou sem garagem. Já ficamos sem ônibus semanas antes de estreias de espetáculos.

O movimento de pesquisa de produção existe para que sigamos caminhando e criando no percurso o caminho. É preciso entender as limitações e planejar com coragem e atenção cada ação para que seja possível dedicar-se de forma plena a nossos propósitos artísticos. 

Como um exemplo pertinente, a encenação no ônibus traz uma demanda de trabalho e de organização muito específica: é necessário ter um motorista habilitado e que tenha disponibilidade e disposição para acompanhar os ensaios e a temporada dos espetáculos. Ele, o motorista, é também um artista sobre rodas que participa ativamente do trabalho. Ele sensivelmente precisa compreender as nuances da encenação. 

Também, pelas particularidades de nossa singular pesquisa, é fundamental estabelecer diálogos constantes com diversas esferas do poder público - precisamos de autorizações para muitas coisas, desde estacionar o ônibus em determinados espaços até para os roteiros de encenação traçados. Ao longo da trajetória da Zózima Trupe, conquistamos nosso espaço e tivemos a certeza de que colocar um ônibus em trânsito exige organização.

Há, ainda, os movimentos necessários para estar em um terminal com uma ocupação artística, como foi nossa residência de oito anos no Terminal Parque Dom Pedro II, e para estar em um ônibus de linha, como em nosso espetáculo Os minutos que se vão com o tempo.

Questões operacionais e diálogos com o poder público se misturam também ao fundamental planejamento orçamentário - levando em consideração os gastos com nosso ônibus, que é de algum modo a sede do grupo - e é por tudo isso que a Zózima Trupe considera a produção um dos movimentos que compõem sua pesquisa.

A troca constante com outros profissionais, pesquisadores e artistas permite avaliar, planejar e administrar as ações de forma clara e objetiva, permitindo que o tempo de pesquisa cênica e os anseios maiores sejam explorados, vivenciados e postos em movimento.