Estirada
Para o todo.
Para a Terra.
Para que cada um de nós,
sejamos melhores.
(Lídia Zózima)
A Zózima Trupe é um grupo brasileiro de teatro fundado em 2007 na cidade de São Paulo pelos artistas-pesquisadores Anderson Maurício, Priscila Reis e Tatiane Lustoza. Há catorze anos, portanto, reúne artistas em pesquisa continuada. Ao assumir-se enquanto Trupe, tais artistas propuseram como ponto fundante dos seus movimentos de pesquisa teatral desbravar as possibilidades do ônibus como dispositivo e espaço cênico; assim provendo acesso às artes cênicas aos cidadãos que utilizam o transporte coletivo - os passageiros-trabalhadores.
O nome da Trupe é uma homenagem à Lídia Zózima (1957 - 2016), preparadora corporal e professora do curso de Teatro da Fundação das Artes de São Caetano do Sul, na região metropolitana de São Paulo. Foi lá que os artistas-pesquisadores da Trupe se encontraram. Artistas que vieram de diferentes cantos da cidade, percorreram longas distâncias e viram, viveram e investigaram esses tantos cantos pelas rodas e trilhos até chegarem à escola de teatro.
Para a diretora francesa Ariane Mnouchkine (1939), fundadora do Théâtre du Soleil, a palavra trupe é um vocabulário de combate e de ordem que mantém uma relação intrínseca com a luta transformada em militância e engajamento no Teatro.
Enquanto é verdade que outros coletivos, trupes, grupos e companhias teatrais desenvolvem ou já desenvolveram, de forma esporádica, ações cênicas em ônibus pelo Brasil afora, somente a Zózima Trupe tem realizado uma pesquisa continuada das possibilidades de encenações nesta composição tão próxima do público - seja no ônibus próprio do grupo ou em linhas regulares do transporte coletivo de São Paulo.
Em 2009, o documentário Teatro e Circunstância, produzido pelo SESCTV, apontou o grupo como um dos que se inscrevem e representam as novas tendências do teatro atual por desenhar com vigor e nitidez os contornos de um movimento artístico que cresce e se avoluma a partir da consciência social, marcadamente caracterizado pela vontade de tirar o teatro dos guetos e democratizá-lo, levá-lo a novos públicos, aos excluídos e aos socialmente não privilegiados – velho sonho jamais plenamente alcançado. O não-lugar foi o título dado para o bloco de documentário que trata das diferentes formas de encenação em locais mais acessíveis à população, como a proposta apresentada pela Zózima.
Já em 2020, no segundo episódio da série Cena Inquieta, também produzida pelo SESCTV, a Zózima Trupe surge ao lado de outros coletivos importantes da Grande São Paulo que, como destaca o crítico Valmir Santos em artigo no Teatrojornal, desenvolvem em seus trabalhos poéticas capazes de "conciliar demandas urgentes, sejam levantes-flutuantes-moventes, com níveis de politização inerentes aos atos e práticas artísticas extraídas do cotidiano. Um teatro do possível concretizado na laje, no quintal, na quebrada, na praça, no asfalto, no campinho, na passarela de pedestres, no transporte público, no terminal de ônibus (...)".
Todo espaço verdadeiramente habitado traz a essência da noção de casa. Pois a casa é nosso canto no mundo. (Gaston Bachelard em A Poética do Espaço)
A Trupe, como destaca o crítico e teórico Sebastião Milaré, "propõe outro diálogo com a cidade: do ponto de vista do ônibus, ou seja, do transporte coletivo". Segundo a crítica Marília Beatriz, na Trupe “há uma inversão do papel teatral. O véu de teatro, como um objeto eleito para poucos, fica por terra no momento em que se busca no ônibus, a fatura da arte cênica”. Para a artista Nina N. Hotimsky, “se hoje temos um número bem razoável de edifícios teatrais tradicionais, entraves do ponto de vista de sustento fazem com que o local de apresentação ainda seja um problema para grupos de teatro”.
Mas o ônibus, a arena intimista da Zózima, tem outras razões de ser que não a da viabilidade comercial. Até mesmo porque a encenação em um ônibus em movimento requer um planejamento estratégico, com a participação de diversos tipos de profissionais, autorizações do poder público, etc.
O grupo já montou diversos espetáculos utilizando o ônibus como espaço de encenação. Todas as montagens cênicas realizaram ampla temporada pela cidade. Além dos espetáculos, a Trupe também desenvolveu outros projetos e ações dentro do Terminal Parque Dom Pedro II, dando continuidade à pesquisa do ônibus como lugar de afeto, não só de trânsito mas também de pousos.